terça-feira, 30 de abril de 2013



Há planilhas por todos os lados
Tristes números enquadrados
Vagas quantidades
 a espera de liberdade
Sonham os algarismos
em galgar escalas
Esquecem que sendo números
Nunca serão palavras

domingo, 7 de abril de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

O que é haicai



Haikai
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Haikai (俳句 Haiku ou Haicai?) éuma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas). [1] Em português é escrito Haicai, no Brasil, e Haiku, em Portugal.





Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo[2].


 Muitas vezes, há uma pintura a acompanhar o haicai (ela é chamada de haiga). "Haijin" é o nome que se dá aos escritores desse tipo de poema, e principal haijin (ou haicaísta), dentre os muitos que destacaram-se nessa arte, foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer do haikai uma prática espiritual.


Segundo Goga (1988), o primeiro autor brasileiro de Haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:
“Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível”[3].



Quem o popularizou, porém, foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil.
Outra corrente do haikai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda. Esta corrente define haikai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturado em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo. Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa, que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: "sakura", "flor de cerejeira", é associada à Primavera).

Como fonte nipônica do ainda haiku, em sua forma original, GOGA [3] atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908. Nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu. Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku:
A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.

Foi na década de 1930 que aconteceu o intercâmbio e difusão do haiku entre haicaístas japoneses e brasileiros, constituindo-se, assim, outro caminho do haikai no Brasil. Foi naquela década também que apareceu a mais antiga coletânea de haikais chamada simplesmente Haikais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haikais. Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro de haikais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento – Haicais. As rotas do haikai no Brasil podem ser resumidas cronologicamente da seguinte forma:
·         Em 1879, através do livro Da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
·         Em 1908, através da chegada dos imigrantes japoneses ao porto de Santos.
·         Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
·         Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colônia por Keiseki e Nenpuku.
·         Na década de 1930, através do intercâmbio entre haicaístas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga.
·         Em 1983, Paulo Leminski escreveu uma biografia de Matsuô Bashô. Também publicou diversos haikais.
Com a ambientação e a difusão do haiku em língua portuguesa, algumas correntes de opinião [3] sobre este se formaram:
·         A corrente dos defensores do conteúdo do haiku;
·         A corrente dos que atribuem importância à forma;
·         A corrente dos admiradores da importância do kigo.
Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como a concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaísta que aderiu a essa corrente.
Os que consideram a forma (teikei) a mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu a essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haikais “guilherminos”. Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:

_______________ X
___ O ______________ O
_______________ X

Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haikais. Exemplo (GOGA, 1988, p. 49):
Histórias de algumas vidas
Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.

Os admiradores da importância do kigo respeitam em seus haikais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior é um deles. Apesar de existirem essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como os de Afrânio Peixoto, Millôr Fernandes, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, José Maurício Mazzucco, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Osman Matos, Abel Pereira e Fanny Luíza Dupré são importantes na história do haikai no Brasil.

Referências

1.    Lanoue, David G. Issa, Cup-of-tea Poems: Selected Haiku of Kobayashi Issa, Asian Humanities Press, 1991, ISBN 0-89581-874-4 p.8
2.    van den Heuvel, Cor. The Haiku Anthology, 2nd edition, Simon & Schuster, 1986, ISBN 0-671-62837-2 p.11
3.    a b c GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.










quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O dia em que nasci




Realizei o meu parto. Isso mesmo. Eu nasci e me trouxe ao mundo. Foi um pouco difícil e complicado. Não queria falar de detalhes mas é inevitável. O dia em que realizei o meu parto eu estava sentado na cama e não posso dizer que senti a dor porque já sentia há muito tempo mas não incomodava tanto então ia convivendo com ela. 



Porém, naquele dia a dor foi aumentando, aumentando. Eu deitei para ver se passava. Nada. Virei de lado, de bruços, me enrosquei todo e abracei minhas pernas na tentativa de encontrar uma posição confortável. A dor só aumentava. Eu comecei a suar. Suava por todos os poros. Transpirava por lugares que eu desconhecia.  Comecei a gemer.  Eu sentia que já não cabia mais dentro de mim. Precisava fazer qualquer coisa pra me livrar daquela dor. E parece que foi me dando uma loucura.

  Fui até a cozinha me apoiando nos móveis. Eu gemia. A dor já era insuportável. Peguei uma faca afiada, a mais afiada que eu tinha, voltei para o quarto ensandecido, deitei na cama meio de cócoras e sem nenhuma cerimônia, fiz o corte. Não usei nenhum tipo de anestesia. Nem sequer fumei ou bebi antes.  Cortei porque era preciso. E na emergência de nascer fui fazendo força, mais força, mais força e fui saindo lentamente. Primeiro a cabeça, depois o corpo que nem parecia um corpo. Era uma coisa meio gosmenta. O estranho é que eu não me reconheci. Fiquei ali parado perplexo me olhando enquanto eu, do outro lado, tinha uma espécie de visão turva, uma inconsciência da minha existência e num simples instinto de sobrevivência, comecei a chorar.

Fiquei com o cordão umbilical na mão. Era o único elo entre mim e minha mãe. Mas não nasci da minha mãe. Nasci de mim mesmo. Num dia como outro qualquer. Engraçado que sempre imaginei que o dia em que eu nascesse seria um dia especial, que iria acontecer algo diferente, como um sinal divino, algo assim. Achava que um pombo iria entrar pela janela, que o papa iria renunciar ou que iria cair um meteoro na Rússia. Mas nada aconteceu de anormal naquele dia com exceção do fato de eu ter nascido.

Digo anormal porque embora todos soubessem da minha longínqua gestação, ninguém acreditava que eu fosse nascer assim de uma hora para outra, assim num dia como outro qualquer. Eu nasci na minha casa com a minha faca. Cortei o cordão umbilical em pedacinhos e comi para não deixar nenhum vestígio.  Agora eu sou eu. Mas eu quem?

Não tenho nome. Não sei que nome me dar. Não tenho sexo. Cortei o que eu tinha. Pesava. Agora me sinto leve demais. Não sei andar sem o peso entre as pernas. Tropeço em mim mesmo. Não sou Ana nem Pedro nem Maria nem João. Não adianta insistir. Se é pra falar sobre mim, vou logo adiantando, não sei muita coisa. Nasci agora há pouco mas nasci quase em pé igual aos potros e já fui caminhando meio bêbado ou bêbada. No entanto, não paro de levar porrada. Toda hora. Por isso sei que tenho resistência de macho e me orgulho dela! Mas a dor é de parto. Dói muito! Eu nunca tive noção disso. Antes de nascer, tive um filho. Não fui eu que pari. Foi a Claudinha. Ela reclamava e eu sempre achava que era exagero de mulher. Eu alternava com ela em trocar as fraldas e levantar durante a noite quando a criança chorava. 

Um dia, fiquei sozinho com o moleque. Ele chorou e eu fiquei desnorteado. Peguei-o e aconcheguei-o no colo. Eu queria dar meu peito para ele. Eu queria sentir essa emoção de ver o moleque se alimentando do meu amor e de tudo que eu  sou por dentro.

Porque eu tenho muito amor. E esse moleque, Pedrinho, é um pedaço bonito de mim. Mas eu precisava nascer primeiro. Então disse isso a Claudinha e fui embora. Sei que nunca terei a bebida da vida para dar ao Pedrinho. Sempre soube disso. Mas precisava me livrar do excesso. Porém, sempre conviverei com essa ausência de mim mesmo. Porque embora eu tenha nascido, nasci faltando. Mas quando passo na rua percebo que não sou o único. As pessoas cantam seus excessos e bebem suas faltas nos bares.

Então caminho meio trôpego porque vou bebendo a vida. Nasci para a guerra. Mas não para lutar. Sou um arauto, um estrangeiro em terras desconhecidas. E por mais que eu conheça a nova língua, nunca compreenderei suas metáforas porque não sinto o sangue que escorre todo mês acompanhado da melancolia. Minha guerra é única porque não conheço a terra em que terei que entregar minha mensagem. Não tenho mapa, bússola, estratégia nem plano de fuga. Já tive que matar para sobreviver. 

E assim é a guerra mesmo para quem carrega a mensagem da paz. Ela é impiedosa para os vencedores e para os desertores. A vitória é sempre amarga porque há mortes e não traz a felicidade porque vem acompanhada pela dor do parto.

Mas sempre é preciso nascer, morrer e nascer de novo.