quinta-feira, 8 de novembro de 2012


A mulher sem face

Stephanie era seu nome. Adotara-o desde que decidira esquecer Ana Maria, a mulher de passado triste.

Durante o dia, ia à praia, à academia, cuidava da pele, do cabelo e dormia bastante para manter sempre uma expressão suave no rosto. À noite trabalhava como prostituta numa casa badalada da cidade. Mas aos Domingos  ela percebia que tinha seu ponto fraco. Aos Domingos Ana Maria assombrava-a no espelho com cabelo opaco, pele cansada, olheiras no rosto. E para ignorar Ana Maria aos Domingos, ela bebia. Passou a beber o dia todo sozinha. Não queria companhia. Não precisava de ninguém que fosse confundi-la com a pessoa que não era. Arrumava-se toda, maquiava-se, colocava o sapato alto, ligava o rádio, bebia e dançava. Dançava e bebia. E para acabar com a alegria da  Ana Maria que teimava em aparecer, arrumou um lugar para trabalhar também aos Domingos . Assim, elas não se viam.

Os anos passaram, Stephanie comprou uma casa, fez viagens internacionais, amou mas refutou seu pretendente. Recusou a proposta de casamento por saber que seu amante desejava a Ana Maria. Era um amor impossível.
Nesse dia, Ana Maria passou a odiá-la e chegou a pensar em tomar as rédeas da situação mas Stephanie trancou-a num porão de onde às vezes ouvia gritos mas ignorava.

Um dia disseram a Stephanie que não precisavam mais de seus serviços. Ela juntou suas coisas, e antes de ir embora, confrontou-se num espelho onde descobriu que já não era mais Stephanie. Ficou espantada: A imagem não tinha face!
Percebeu então, que teria de se reconciliar com Ana Maria e foi correndo para casa mas ao abrir o porão não a encontrou . Aterrorizada, percebeu que trancara Ana Maria por trinta anos sem nem mesmo dar-lhe água e comida.
Stephanie que já não era mais Stephanie e também não era Ana Maria, ficou conhecida como a mulher sem face e até hoje pode ser vista perambulando pelas ruas de Copacabana.











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