A mulher sem face
Stephanie era seu nome. Adotara-o
desde que decidira esquecer Ana Maria, a mulher de passado triste.
Durante o dia, ia à praia,
à academia, cuidava da pele, do cabelo e dormia bastante para manter sempre uma
expressão suave no rosto. À noite trabalhava como prostituta numa casa badalada
da cidade. Mas aos Domingos ela percebia
que tinha seu ponto fraco. Aos Domingos Ana Maria assombrava-a no espelho com
cabelo opaco, pele cansada, olheiras no rosto. E para ignorar Ana Maria aos
Domingos, ela bebia. Passou a beber o dia todo sozinha. Não queria companhia.
Não precisava de ninguém que fosse confundi-la com a pessoa que não era.
Arrumava-se toda, maquiava-se, colocava o sapato alto, ligava o rádio, bebia e
dançava. Dançava e bebia. E para acabar com a alegria da Ana Maria que teimava em aparecer, arrumou um
lugar para trabalhar também aos Domingos . Assim, elas não se viam.
Os anos passaram,
Stephanie comprou uma casa, fez viagens internacionais, amou mas refutou seu
pretendente. Recusou a proposta de casamento por saber que seu amante desejava
a Ana Maria. Era um amor impossível.
Nesse dia, Ana Maria
passou a odiá-la e chegou a pensar em tomar as rédeas da situação mas Stephanie
trancou-a num porão de onde às vezes ouvia gritos mas ignorava.
Um dia disseram a
Stephanie que não precisavam mais de seus serviços. Ela juntou suas coisas, e
antes de ir embora, confrontou-se num espelho onde descobriu que já não era
mais Stephanie. Ficou espantada: A imagem não tinha face!
Percebeu então, que teria
de se reconciliar com Ana Maria e foi correndo para casa mas ao abrir o porão
não a encontrou . Aterrorizada, percebeu que trancara Ana Maria por trinta anos
sem nem mesmo dar-lhe água e comida.
Stephanie que já não era
mais Stephanie e também não era Ana Maria, ficou conhecida como a mulher sem
face e até hoje pode ser vista perambulando pelas ruas de Copacabana.
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